segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Prisão perpétua anulada

“Paulistas foram condenados por sequestro após uma série de erros judiciais. Nova audiência será marcada para outubro”, por Cláudio Dias do Estadão

Os paulistas A.C.O e R.E.J, que cumpriam prisão perpétua nos Estados Unidos, terão uma chance de voltar ao Brasil. Condenados em 6 de março do ano passado pelo sequestro de uma brasileira e seu filho, os dois entraram com uma apelação. A audiência no Tribunal de Recurso do Estado da Califórnia ocorreu no dia 25 de maio, mas a decisão só foi anunciada na semana passada. A sentença foi arquivada por uma série de erros judiciais e nova audiência será marcada para outubro. Os dois brasileiros se declaram inocentes e vítimas de armadilha. Cumprem pena em prisão na cidade de Coalinga, na Califórnia. Na audiência do dia 19, por 2 votos a 1, sem que eles tivessem presentes, os juízes admitiram erros no processo. Entre eles, falta de detalhes do suposto sequestro e perguntas incorretas feita pela juíza da época. Com isso, a prisão perpétua foi anulada. Ex-cônsul geral adjunto do Consulado de Los Angeles e atualmente cônsul em Zurique, Júlio Victor do Espírito Santo acompanhou o caso e explica que a decisão não representa absolvição. "O Tribunal anulou o primeiro julgamento. É um bom indício, mas ainda não é a solução". Procurada, a Assessoria de Imprensa do Itamaraty não respondeu ao questionamento sobre o andamento do caso. A cabeleireira M.A.S, com quem O.J é casado desde 1979, diz estar esperançosa com a anulação do primeiro julgamento. "É uma decisão inédita, porque é raro a Justiça americana voltar atrás", diz. "Sempre soubemos que ele era inocente". A família não aceita a prisão. O araraquarense viajou para encarar cinco anos de trabalho nos Estados Unidos, juntar dinheiro e pagar a faculdade dos dois filhos. Mas tudo deu errado. Com o pai preso, o filho A.C.O, de 30 anos, precisou deixar a faculdade de Biomedicina. Hoje sonha apenas reencontrar o pai. "Revê-lo e apresentá-lo ao meu filho de 6 anos seria o mais importante na minha vida", diz A, que não vê o pai há dez anos. Irmão de E.J, o jornalista L.Etambém afirma estar contente com a notícia e aguarda informações. "Sempre soubemos que eles eram inocentes", diz o jornalista, que não fala com o irmão desde 2005. "Mandamos duas cartas e nunca obtivemos resposta. O que sabemos vem por meio da imprensa e da família do Alaor".

Histórico - Em novembro de 2005, os dois brasileiros passaram a transportar passageiros como um serviço extra. Na terceira viagem, levaram duas mulheres e um garoto de cinco anos, todos de Goiânia. Eles entraram ilegalmente nos Estados Unidos vindos do México. Uma das mulheres e o filho se encontrariam com o marido dela na Flórida. No meio da viagem, um problema com o pagamento terminou em briga. A mulher teria então ligado para o marido dizendo estar "presa". Os brasileiros foram detidos pela polícia em um posto de combustíveis na cidade de Costa Mesa, na Califórnia. A acusação: sequestro e cobrança de US$ 18 mil de resgate. A Justiça americana os condenou como coiotes - homens pagos para fazer a travessia de imigrantes ilegais pela fronteira. Foram cinco anos sem que o Itamaraty tomasse conhecimento do caso. Em 6 de março do ano passado, eles foram condenados a prisão perpétua e entraram com a apelação cuja sentença foi dada na semana passada.

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