terça-feira, 10 de agosto de 2010

Discurso de Paraninfo Uniban

Segue ...



Discurso Formatura 1ª Turma Uniban, São José-SC

Ilustres componentes da mesa,

Prezados professores e funcionários,

Senhores pais, familiares e amigos,

Meus queridos afilhados,

Boa noite.

Menos superioridade. Mais solidariedade. Sempre felicidade.

Por manifesta generosidade da turma tenho o privilégio de ser evocado como seu paraninfo e, assim, participar como testemunha desse momento especial. Por isso não devo continuar sem antes agradecer – agora pessoalmente – pelo carinho com que me distinguem e pelo privilégio de associar o meu nome à contemplação de significativa conquista. Tenham a certeza de que estou mais feliz do que honrado, pois como falava Roland Barthes, a honra pode ser imerecida, mas a alegria nunca o é.

Devo confessar que não levei muito tempo para escrever esse discurso, embora durante dias deparei-me com estas folhas de papel a reclamar os seus direitos. Concluí que falar de quem só sei e só quero o bem, por ser uma manifestação decantada de prazer, não é tarefa difícil. Difícil é falar em cinco minutos uma história de cinco anos. Eis o bônus e o ônus de ser paraninfo.

Não imaginava ter a prerrogativa de ministrar, porque não dizer, a última lição. Por evidente ninguém precisa anotar, pois seguramente o que transmitirei está gravado em vossas memórias e em vossos corações. Esse gratificante ciclo, não obstante hoje alcance o seu fim, merece ser recordado desde o seu começo. Isso porque, há cinco anos, poucos formandos debutaram o curso de Direito desta Instituição que, à época, denominava-se diversamente. Entre os pioneiros, nem todos suportaram as inúmeras noites de estudos e avaliações e, com efeito, aqui não se encontram. Mas a recordação deles é igualmente necessária, e por isso enfatizo a minha gratidão, juntando-me ao coro silencioso de meus afilhados. Obrigado a todos vocês, pela ousadia, pela braveza e pela determinação.

Nesse período novos nomes se somaram aos antigos. Nas inúmeras semanas de convívio tive a oportunidade de transmitir conhecimentos e compartilhar experiências. Tive a oportunidade de fazer sofrer e de fazer sorrir. Estou convicto da importância de todos, não só pela contribuição ao curso de direito, mas por fazerem parte de minha história acadêmica. Por isso, igualmente, muito obrigado.

Em metade de uma década posso dizer que vocês vivenciaram várias mudanças. Foram testemunhas de que pessoas muito diplomadas podem não seguir a cartilha da diplomacia. Isso já seria o bastante para propor o esquecimento daqueles que aqui estiveram e que ainda vivem agarrados no amor próprio, mas não o farei. Ao contrário, a razão dessa recordação reside no intuito de alertá-los do quão pequeno vocês serão ao se imaginarem superiores aos demais. Sinceramente espero que não cometam esse erro na profissão que escolherem seguir. Portanto, sejam humildes.

Ainda posso afirmar que vocês requereram mudanças. Protagonizaram uma ação de solidariedade ao reivindicarem um direito conatural ao curso e necessário para alcançar essa colação de grau. É assim que analiso a instalação do núcleo de assistência jurídica – hoje sob a competente coordenação do Professor Alexandre Stotz – com a possibilidade de realização de um trabalho social caritativo. Saibam que proporcionar à sociedade carente o recurso de acesso à justiça é uma enorme conquista.

Permitam-me recordar outro momento de solidariedade em que vocês foram protagonistas. Na época das chuvas que atingiram o nosso Estado no ano de 2008 vocês aderiram a um pedido: comprariam um dos meus livros e o dinheiro arrecadado seria doado a uma família necessitada. Não sei qual destino seguiu o livro em vossas mãos, mas certamente sabemos o destino daquela atitude. Por isso, com a lembrança daquele momento, quero solicitar que também pautem vossas profissões com atos de nobreza, que exerçam vossas carreiras sem espaço para desigualdades, preconceitos e exclusões, que lavorem sem egoísmo, que não se apeguem excessivamente às riquezas materiais. Recordem que o valor do ser humano e de ser humano é primordial e é o que deve ser sempre exaltado, quer como magistrado, promotor, delegado, advogado ou professor.

Eu escolhi o magistério e procuro pautar as minhas condutas nessas diretrizes. Espero que, de todo coração, tenha conseguido passar alguns valores. Não o fiz para tornar-me um modelo a seguir, até porque não o sou, mas apenas para dignificar minha profissão de educador com caráter, honestidade, ética e sinceridade.

Isso porque, tenho a clara convicção de que ensinar não é verbo que qualquer um possa conjugar e tanto é verdade que muitos que aqui fingiam exercer a atividade foram convidados a sair. Por isso é meu dever dirigir desculpas a vocês pelos momentos em que foram cobaias nas mãos de falsos cientistas. Mas também devo recordar que vocês tiveram o privilégio de compartilhar a inteligência de mestres como o Fabiano, o Júlio, a Mônica, o Marcos Vinícius, o Ângelo, entre outros. Ainda encontraram o Bruno, a quem homenageiam nessa noite com todo o reconhecimento. Mas, em especial, tiveram a oportunidade não só de serem alunos, mas igualmente coordenados, pela professora Carla. Tantas vezes contestada, hoje e sempre ela deve ser reverenciada, pois é por seu empenho e por sua dedicação que o curso de direito sobrevive desde a última mudança de coordenação.

Aos novos professores, que apenas pela minha distância física não os conheço, quero pedir que continuem o compromisso sério com a docência e com essa Instituição, pois ser professor não é apenas ter uma profissão, mas significa exercer um sacerdócio. Claro que para atingir o desejável e o factível não posso deixar de invocar uma maior valorização dos docentes por parte da Faculdade. Assim, minha amiga e ilustre diretora, neste ato representando o reitor: é necessário passar a reconhecer o valor dos nossos verdadeiros mestres não somente com palavras sob pena de não conseguirmos uma identidade necessária entre o corpo docente e discente.

Aos formandos, ainda quero dirigir mais algumas palavras. Nossos caminhos se encontraram na metade do curso com a disciplina de direito penal. Fui convocado a corrigir uma turma problemática. Assim vocês eram qualificados. E no primeiro dia de aula deixei meu cartão de visitas: não estou aqui para fazer amigos e nem para ganhar inimigos. Devo outro pedido de desculpas, pois naquele momento o viço da juventude e porque não dizer, da imaturidade, emprestou-me uma indesejável arrogância e ousadia. Também sinto por não ter concluído meu ofício em processo penal na oitava fase, mas o destino me convocou a estudar no exterior uma segunda vez. Esse mesmo destino, que me afastou de pessoas que eu amo, concedeu ao professor Marcelo, com os seus méritos, o privilégio de conquistar a confiança, a amizade e o respeito de todos vocês.

Tenho certeza que para alguns não foram semestres fáceis, especialmente nas provas sem consulta e com os recursos a solidariedade ao próximo atenciosamente vigiados por este que vos dirige a palavra. Mas saibam que vocês são grandes pessoas, pois não há atitude mais nobre do que compartilhar conhecimento, ainda que seja feito de uma forma perigosa. Foi essa a razão pela qual eu não puni quem se arriscou para ajudar o semelhante desesperado durante uma avaliação. Contudo devo mencionar que os campeões de cola, também eram os campeões na arte de não saber colar.

Por fim, devo ressaltar que o fato de serem grandes pessoas não significa que alcançarão de forma imediata seus objetivos profissionais. Todos sabem como seguiram o curso e o quanto de dedicação lhe foi outorgado. Logo, vocês serão responsáveis por suas vitórias, mas também por suas derrotas. Saibam, porém, que o importante não é vencer todos os dias, contudo lutar sempre. Por isso, como paraninfo, julgo importante enfatizar que a experiência também será adquirida quando não alcançarem aquilo que desejam já numa primeira tentativa. E, por último, faço um pedido: prometam que não irão desistir e que vão tentar até conseguir. Não deixem de correr atrás de vossos sonhos e, quando tornarem o sonho realidade, deverão pular, deverão gritar, deverão festejar e mesmo chorar, como fiz ao receber este convite e que aqui contenho, mesmo sabendo que essa é a nossa última lição.

Como disse, é difícil resumir cinco anos em cinco minutos. E certamente superei o tempo a mim estabelecido. Como não posso pará-lo, também dele não vou abusar. Apenas quero repetir nessa despedida, e como é difícil se despedir, que não esqueçam que o primordial é o valor do ser humano e de ser humano. Partam dessa premissa e, com ela, refutem a superioridade, exaltem a solidariedade e busquem sempre a felicidade.

Não atrapalho mais. Que Deus os ilumine. Contem sempre comigo!

Muito obrigado.


3 comentários:

  1. Caro professor De bem, muito bom seu discurso, bom nao otimo, realmente sempre detestei formaturas, mas esta foi demais, muito boa em todos os aspectos.
    Abraços
    Edson Feldman

    ResponderExcluir
  2. Seu discurso foi de uma inteligência ímpar.

    Soube ser deveras discreto sem deixar de ser incisivo!

    Mais um texto escrito com maestria!!
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Como formando, estou orgulhoso e ciente que fizemos a escolha certa! Abraço!

    ResponderExcluir