Uma tarde, Cristal chegou cansada de seu trabalho no supermercado, abriu a geladeira e percebeu que não tinha mais leite para o bebê. Ficou nervosa e pensou em tomar um copo de água com açúcar. Mas a lata também estava vazia. Pediu uma arma ao vizinho e foi assaltar.
As histórias de Cristal e de outras onze mulheres que, por razões distintas, entraram no mundo do crime podem ser lidas no blog Presos que Menstruam: Histórias de mulheres que são tratadas como homens nas prisões paulistas (www.presosquemenstruam.blogspot.com), da jornalista Nana Queiroz.
Escrito após seis meses de visitas a penitenciárias paulistas e à sede da Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel de Amparo ao Preso (Funap), o blog é construído como uma colcha de retalhos. Cada postagem apresenta um conto, um episódio da vida de alguma detenta entrevistada, um diálogo ou uma cena presenciada pela jornalista em suas visitas aos presídios. Livre do olhar de jurista, Nana questiona conceitos como culpa e inocência. Dá espaço para que cada uma das detentas não só conte a sua história, mas apresente suas justificativas para os crimes.
Entre suas confidentes está Júlia, uma ex-estudante de Direito que tinha um futuro promissor. Até que o coração a fez trocar as provas pelas filas de cadeia, e as filas por uma cela na Penitenciária Feminina da Capital.
Ou ainda Célia, que passou a infância matando passarinho de estilingue, trepando em árvore com a molecada. Brincar de casinha? Só se ela fosse o papai. A vizinhança, entre um bochicho e outro, a apelidou de “Maria-João”. O pai, um homem ríspido e tradicionalista do interior de São Paulo, punia a filha amarrando-a na beirada da cama em longas sessões corretivas. Célia cresceu alimentando uma revolta. Virou sequestradora.
A narrativa revela ainda as muitas penas que não vêm especificadas nas sentenças, mas também têm que ser cumpridas pelas mulheres e parentes. Como o sofrimento dos filhos, privados da mãe (e, em muitos casos, de toda a família). Ou a tristeza de dar à luz algemada à cama e ver seu bebê ser tomado sem sequer acalentá-lo uma única vez. Ou a dificuldade de viver com uma provisão reduzida de papel higiênico e absorventes -- às vezes substituídos por pedaços de pano ou miolos de pão.
Com humor, as presas também deixam escapar confidências: contam seus casos secretos de amor umas com as outras, as conclusões inteligentes de seus filhos amadurecidos prematuramente e as intrigas que permeiam um ambiente cheio de pessoas desocupadas. Como Nana as acompanhou por seis meses, é possível seguir os desdobramentos das histórias de cada uma delas. E, até ali, encontrar um ou outro final feliz.
Fonte: Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
As histórias de Cristal e de outras onze mulheres que, por razões distintas, entraram no mundo do crime podem ser lidas no blog Presos que Menstruam: Histórias de mulheres que são tratadas como homens nas prisões paulistas (www.presosquemenstruam.blogspot.com), da jornalista Nana Queiroz.
Escrito após seis meses de visitas a penitenciárias paulistas e à sede da Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel de Amparo ao Preso (Funap), o blog é construído como uma colcha de retalhos. Cada postagem apresenta um conto, um episódio da vida de alguma detenta entrevistada, um diálogo ou uma cena presenciada pela jornalista em suas visitas aos presídios. Livre do olhar de jurista, Nana questiona conceitos como culpa e inocência. Dá espaço para que cada uma das detentas não só conte a sua história, mas apresente suas justificativas para os crimes.
Entre suas confidentes está Júlia, uma ex-estudante de Direito que tinha um futuro promissor. Até que o coração a fez trocar as provas pelas filas de cadeia, e as filas por uma cela na Penitenciária Feminina da Capital.
Ou ainda Célia, que passou a infância matando passarinho de estilingue, trepando em árvore com a molecada. Brincar de casinha? Só se ela fosse o papai. A vizinhança, entre um bochicho e outro, a apelidou de “Maria-João”. O pai, um homem ríspido e tradicionalista do interior de São Paulo, punia a filha amarrando-a na beirada da cama em longas sessões corretivas. Célia cresceu alimentando uma revolta. Virou sequestradora.
A narrativa revela ainda as muitas penas que não vêm especificadas nas sentenças, mas também têm que ser cumpridas pelas mulheres e parentes. Como o sofrimento dos filhos, privados da mãe (e, em muitos casos, de toda a família). Ou a tristeza de dar à luz algemada à cama e ver seu bebê ser tomado sem sequer acalentá-lo uma única vez. Ou a dificuldade de viver com uma provisão reduzida de papel higiênico e absorventes -- às vezes substituídos por pedaços de pano ou miolos de pão.
Com humor, as presas também deixam escapar confidências: contam seus casos secretos de amor umas com as outras, as conclusões inteligentes de seus filhos amadurecidos prematuramente e as intrigas que permeiam um ambiente cheio de pessoas desocupadas. Como Nana as acompanhou por seis meses, é possível seguir os desdobramentos das histórias de cada uma delas. E, até ali, encontrar um ou outro final feliz.
Fonte: Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
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