terça-feira, 13 de março de 2012

Pena de morte

Participei de um colóquio sobre a abolição da pena de morte há aproximadamente um ano em Madrid. O programa era composto por respeitados juristas e professores, contudo foram outras três pessoas que chamaram a minha atenção: Meléndez, Graham e Martínez. Com discursos muito emocionados relataram em poucos minutos o sofrimento psicológico que passaram durante anos, pois estiveram a um passo da morte. Habitavam prisões americanas, mas nelas nunca deveriam estar, pois inocentes. Ao final do encontro conversei com cada qual. O latino Meléndez tem o seu coração ferido, pois, afinal, foram quase dezoito anos no corredor. Contou-me que todos os demais detentos o aplaudiram quando deixava o cárcere e afirmou que não havia dinheiro suficiente para pagar a sua falta de liberdade e que a sua maior recompensa chegará no dia em que restar abolida a pena de morte.O afro americano Graham, bem humorado, questionou a razão de tê-lo aplaudido em pé uma vez que os demais presentes não o fizeram. Respondi que era a melhor forma de homenagear um soldado. Explico. Ao final de sua fala, com lágrimas nos olhos, levantou-se para, como fazem os boxeadores na tomada de peso, erguer as mãos, cerrar os punhos e dizer ao público: “sou um soldado”. Foram oito anos na prisão e cinco deles no corredor da morte. Graham foi um ótimo soldado! O hispânico Martínez passou três anos no corredor da morte. A sua sentença se baseou em um vídeo de má qualidade em que supostamente confessava um crime. Ele recebeu ajuda econômica para contratar um advogado e conseguir a liberdade. Emocionou-me ao contar que seus pais iniciaram campanha junto aos meios de comunicação espanhóis e depois em toda a Europa para provar sua inocência. Ganhou o apoio do Papa João Paulo II. Hoje se dedica a abolir a pena de morte. Consideram-se afortunados. E realmente o são, pois embora vítimas da injustiça, tiveram uma chance de recomeçar. Outros heróis saíram inocentes. Alguns deles se suicidaram. Quase nenhum foi indenizado. Muitos perderam famílias durante os anos encarcerados ou deixaram de constituí-las. Não faltou quem os tenha condenado, mas o mais triste é que ainda há os que o fazem. Eles sofreram no passado em razão de um sistema corrupto, preconceituoso e tortuoso e atualmente fazem parte de um grupo de ressuscitados que atua no combate a aplicação da pena de morte exigindo a revisão dos processos de seus colegas de cárcere por meio de prova genética. Lutam arduamente para elevar o número de exonerados inocentes que perdem todos os dias momentos de liberdade. Perguntei se me autorizavam a divulgar as suas histórias e Graham respondeu: “aquele que crê na liberdade, não pode descansar”. Recordo dessa frase todos os dias. Ela é genial. Sinceramente participei de um evento impar. Uma noite incrível para um estudante de direito e para um jovem professor. Depois de ouvir as mensagens de Meléndez, Graham e Martínez tenho a obrigação de arregaçar as mangas e ajudar nesse processo de conscientização universal. Devo ajudar para que mais ninguém fique a um passo da morte. Por isso resolvi escrever.

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